Painelistas apontam os perigos da crise financeira para o Brasil

O segundo painel dessa segunda-feira (8/11) do Conaf 2010 (Congresso Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil) teve como tema o “Momento Econômico Político Atual: Uma nova Ordem econômica mundial”. O presidente da Comissão Organizadora do Congresso e moderador do painel, Edes Marcondes Nascimento, ao relembrar o tema escolhido para o congresso (O Auditor-Fiscal como agente do desenvolvimento nacional), destacou que o Brasil passa neste momento por uma segunda onda da crise financeira mundial ocorrida em 2008 – daí a importância de se discutir a matéria.

O primeiro expositor, Plínio de Arruda Sampaio Júnior, que é professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explicou o impacto da crise financeira no Brasil. “O que caracteriza a crise é o excesso de capital que provoca mudanças profundas do estado em relação à sua economia, provocando maior exploração de trabalho, maior centralização de capitais e reorganização do capital”.

Ao explicar as características da crise, Plínio de Arruda ressaltou que, ao contrário do que foi amplamente divulgado, a crise econômica mundial é de grande envergadura e os governos sequer iniciaram um debate para solução do problema, mas decidiram tão-somente administrá-lo.

“Essa linha de menor resistência relembra a administração que resultou no colapso financeiro de 1929. Nada de concreto foi realizado para controlar a crise, nada foi realizado para evitar a rivalidade entre as economias nacionais”, afirmou o professor, que ainda aposta em uma recessão prolongada por conta da recente crise, uma vez que os Estados Unidos optaram por administrar e socializar o problema com o mundo, em vez de fazer as queimas necessárias de capitais em excesso.

No entendimento de Plínio Arruda, o crescimento econômico do Brasil ocorreu porque “o país se transformou no paraíso do rentismo de capital financeiro internacional, e o desenvolvimento econômico do país está sob pilares fraquíssimos e nas mãos do governo americano”, assegurou.

Em linha semelhante a das argumentações de Plínio Arruda Sampaio Junior, o professor de economia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Nildo Domingos Ouriques iniciou sua fala criticando o nível dos debates travados durante a recente campanha presidencial.

“Nesse país, em que todos se denominam desenvolvimentistas, passamos por um processo importante sem discutir assuntos de grande relevância para a sociedade. Vejo que o Congresso [Conaf] também escolheu como tema ‘O Auditor-Fiscal como agente de desenvolvimento social’, vocês têm como tarefa pensar e criticar temas que estão distantes da sociedade”, disse o professor.

Nildo Domingos fez duras criticas ao sistema político brasileiro, que, segundo ele, impede que discussões políticas e econômicas cheguem até a população, diferentemente do que acontece em países como a Venezuela e a Bolívia, por exemplo.

Ao citar o aclamado crescimento da denominada "nova classe média", ele destacou que, no Brasil, a concentração de renda é tão grande que esse aumento ganha um vulto maior que o real. "A diferença de renda é tão acentuada que qualquer alteração é comemorada". No seu entendimento, esse tema e outros importantes, como o endividamento estatal, que é herança do Plano Real, deixam de ser tratados de forma séria pela imprensa. "Não é possível pensar em desenvolvimento quando o país é escravizado e sua população não tem visão crítica", disparou.

O professor também criticou a política de exportação adotada no país, que, segundo ele, é condenada por diversos estudiosos. Ao final de sua explanação, Nildo Domingos chamou todos à reflexão, afirmando que é preciso que a Classe se prepare para as reformas que estão por vir e esteja disposta a intervir nesse processo para contribuir para um país diferente e melhor.

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