Relatos de experiências sobre grupos de mulheres do serviço público encerram ciclo de debates em celebração ao Dia da Mulher

Falta de representatividade, assédios, dificuldade de ascensão na carreira, falta de oportunidades. Situações concretas vivenciadas por mulheres no ambiente de trabalho e que serviram de mola impulsionadora para a criação de grupos de mobilização de servidoras foram relatadas por representantes de diversas entidades no painel “Sindifisco Nacional AuditorAs-Fiscais”, que encerrou, nesta quinta-feira (9), o ciclo de debates promovido pelas diretorias de Defesa Profissional e de Assuntos Parlamentares, no Auditório Freitas Nobre, na Câmara dos Deputados.
As palestrantes foram recepcionadas pela vice-presidente do Sindifisco, Auditora-Fiscal Natália Nobre, que agradeceu a disponibilidade de mulheres compartilharem suas experiências de organização.
A diretora de Defesa Profissional, Auditora-Fiscal Nory Celeste, explicou que no primeiro dia do ciclo de debates o foco foram os assédios e os sofrimentos causados nas mulheres. No segundo dia, o tema abordado foi a falta de representatividade das Auditoras-Fiscais nos cargos e espaços de poder da Receita Federal. E no último dia, a ideia era aprender com mulheres que já formalizaram a sua organização para pular etapas na criação de um grupo institucional de Auditoras-Fiscais.
“Nosso objetivo é, a partir de agora, criar um grupo de trabalho para construir a previsão estatutária de uma comissão de mulheres, com orçamento próprio. Porque as diretorias passam, mas as mulheres ficam. Queremos ouvir como foi a caminhada de vocês para aproveitar o que deu certo e não cometer os mesmos erros”, antecipou.
A Auditora-Fiscal Clair Hickmann apresentou o grupo Fisco com Elas, criado há cerca de dois meses de forma espontânea por Auditoras ativas e aposentadas por meio do WhatsApp, a princípio com o intuito de criar uma articulação para que mais mulheres ocupem cargos de poder na Receita Federal. De acordo com ela, o grupo já conta com aproximadamente 90 pessoas que estão estudando a questão de gênero e se conscientizando acerca dos impactos do machismo estrutural. Para reforçar a importância de se ter mulheres gestoras, Clair citou o estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), “Mulheres Líderes no Setor Público da América Latina e do Caribe – Lacunas e Oportunidades”.

A procuradora da Fazenda Nacional Herta Hani contou a experiência da Comissão de Mulheres da Anafe. O grupo, que também tem participação de homens, começou suas atividades fazendo uma pesquisa do perfil dos associados e constatou um número três vezes maior de homens ocupando cargos de gestão que mulheres. Agora, vem desenvolvendo ações para incentivar medidas afirmativas voltadas às mulheres e possibilitar oportunidades para que elas possam participar das discussões, como um espaço kids na própria associação em que os filhos são cuidados durante os eventos.
A comissão das Analistas-Tributárias foi criada em julho do ano passado a partir de uma demanda por equidade apresentada em um evento da categoria em 2019. Mas a ideia só amadureceu em 2022 quando um grupo de Analistas, incluindo as quatro diretoras do Sindireceita, reuniram-se e foram cobrar da administração a criação de um canal de denúncias sobre assédio e debates sobre a questão de gênero. De acordo com a coordenadora do grupo, Denise Figueiredo, foi necessário muito debate no âmbito da diretoria do sindicato para que a criação da comissão fosse aceita. Este ano, o grupo contratou uma consultoria especializada para acompanhar a elaboração do planejamento. A primeira ação do ano foi a cobrança da criação de uma comissão de mulheres na Receita e o canal de denúncias, que acaba de ser anunciado.
Fabiana Uehara Proscholdt, coordenadora nacional da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa Econômica Federal, destacou os obstáculos que as instituições colocam para a ascensão das mulheres. Nos coletivos de bancárias, elas têm se negado a participar de congressos em que não haja paridade entre os participantes. Quando não é respeitada a igualdade de participação, as delegações perdem participantes. Além disso, os sindicatos e confederações têm custeado passagens para que filhos pequenos acompanhem as mães em viagens ou babás para que elas possam participar das discussões. “Temos que normalizar a equidade e que todos temos direitos”, pontuou.

A diplomata Marina de Almeida Prado fez um retrospecto da presença feminina na carreira e das dificuldades enfrentadas pelas mulheres para ascender. Atualmente, 23% dos diplomatas são mulheres e apenas 14% são embaixadoras. 50% das diplomatas encerram a carreira como conselheiras, ou seja, nunca passam da metade do plano de carreira. Para lutar por equidade, elas criaram, em janeiro deste ano, a Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras. Além da institucionalização das políticas de gênero, elas querem regras objetivas para promoção e remoção para o exterior. “A gente tem uma função social de inspirar, fazer com que outras mulheres queiram ser diplomatas”, avaliou.
Nory Celeste encerrou o debate destacando a importância da mobilização das mulheres em suas carreiras e também enquanto servidoras, a fim de transformar a sociedade. “O único jeito de vencer a misoginia é nos unirmos e lutarmos por todas”, sentenciou.
Confira o debate.