Protestos pelo Brasil: o despertar da classe média
As manifestações populares que se generalizaram nos últimos dias, e que nasceram a partir da indignação com o aumento das tarifas de ônibus na capital paulista, escancararam o descontentamento da classe média brasileira com a condução da política pública adotada no país. Uma política distorcida e equivocada que beneficia duas extremidades da pirâmide social (no topo, os mais ricos, e na base, os miseráveis) e sobrecarrega a classe média.
De um lado, o Governo busca alguma justiça social com auxílios pontuais aos que têm menos. A política assistencialista, baseada no Bolsa Família, é meritória e responsável por uma das épocas de maior mobilidade social do país e pelo fortalecimento do mercado consumidor brasileiro. No entanto, está claro que é insuficiente. Aqueles que emergiram à classe média atual querem mais – mais escola, mais educação, melhor transporte público.
De outro, um sistema tão antigo quanto o Brasil, que continua a privilegiar os mais ricos. Não é difícil enxergar o esforço do Governo para amparar e cobrir de afagos os mais abastados. Nos últimos anos, sob o pretexto de combate à crise internacional, o empresariado tem sido agraciado com múltiplas desonerações, que não são repassadas para o preço dos produtos e beneficiam apenas os donos do capital, que desembolsam cada vez menos para financiar o desenvolvimento do país.
E quem paga por isso? A classe média, obrigada a absorver os afagos ao empresariado e as consequências de uma máquina político-econômica deficiente e ineficaz.
A sugestão do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para “solucionar” o problema do aumento da tarifa de ônibus mostra como essa forma de gestão pública está impregnada na mente dos governantes. Ao jornal Folha de S. Paulo de terça-feira (18/6), o político sugeriu que ‘quem deveria financiar o transporte público é quem anda de carro’ – ou seja, mais uma vez a classe média.
Ora a segunda maior frota de helicópteros do mundo está em São Paulo. Então, por que não cobrar desse grupo (os mais ricos)? Há algum tempo, o Sindifisco Nacional luta para que seja instituída a tributação de IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para embarcações e aeronaves particulares. A proposta faz parte, inclusive, da campanha "Imposto Justo". Levantamento do Sindicato realizado em 2010, mostra que se tributados esses bens, os cofres públicos estaduais arrecadariam mais de R$ 4 bilhões ao ano, contribuindo para melhorias, não só no transporte público, mas em outras políticas básicas.
Esse é só um exemplo, mas, mesmo para isso, é necessário que governantes das três esferas ouçam o clamor das ruas e busquem uma reorientação da dinâmica política atual. Note-se que os protestos não discutem apenas a carga tributária brasileira, mas especialmente a distribuição da carga, a quem pesa mais essa tributação e como se dá o retorno da sua aplicação e distribuição.
Até o presente momento, fica claro que esses recursos, além de mal administrados, não são destinados a melhorar a vida do cidadão comum. As tarifas de transporte público, por exemplo, parecem muito mais voltadas a garantir o lucro dos empresários do que a qualidade do serviço prestado à população.
O Sindifisco apoia todas as manifestações pacíficas. É hora de o Governo atender a quem o elegeu, fazendo uma política voltada para o povo e não para quem já tem muito e exigindo que cada um contribua na medida da sua capacidade econômica para o desenvolvimento da nação e a construção de um país socialmente justo.