Participantes de encontro discutem raça e gênero à tarde
"Políticas para Raça e Gênero" foram o foco das discussões, na tarde desta terça-feira (24/8), durante o II Encontro de Políticas Sociais promovido pelo Núcleo de Políticas Sociais formado pela DEN (Diretoria Executiva Nacional) e pelas DS (Delegacias Sindicais) interessadas no tema. A expositora convidada foi a geógrafa e militante do Grupo de Trabalho Nacional de Mulheres Negras do MNU (Movimento Negro Unificado) Regina dos Santos.
A convidada chamou atenção para as desigualdades sociais gritantes existentes no Brasil, como o fato de a média salarial dos 10% mais ricos no país ser 25 vezes maior que a média salarial dos 10% mais pobres. “E quem mais sofre essa desigualdade são os segmentos raciais”, disse Regina.
Para ela, “os Auditores podem implementar comportamentos de modo a minimizar as desigualdades que sofrem esses segmentos de gênero e raça no país, porque formam uma categoria que tem influência no cenário nacional”. Em relação à quetão racial, a palestrante apresentou muitos dados e usou um caso prático pessoal para demonstrar a discriminação.
Ela circulou uma foto do filho, um negro de pele clara, para dizer que, quando ele saia com cinco amigos mais brancos e eram parados em batidas policiais, o foco da ação policial era seu filho. Também contou outro caso em que ela foi jantar com outro colega negro e, “embora todas as mesas do restaurante estivessem vazias, o maitre disse que o restaurante estava lotado”.
Ela citou uma pesquisa paulista em que 97% afirmam existir racismo no Brasil, mas apenas 14% assumem ser racistas. Questionada sobre o Estatuto da Igualdade Racial, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 20 de julho, Regina avaliou que o estatuto se constitui em uma lista de ações afirmativas.
“Ele é autorizativo e não determinativo. Ora, a lei autorizar não é a mesma coisa de ela determinar. Abre-se margem aí ao cumprimento ou não. Mas reconheço alguns avanços, sim, embora seja preciso avançar muito na questão racial no Brasil”, opinou a expositora.
Sobre a política de ação afirmativa de cotas raciais, disse que não deve ser para toda a vida, mas que deve sirvir para eliminar as desigualdades nas universidades e na política. “As pesquisas comprovam que os cotistas que conseguem concluir seus cursos saem tão bem preparados para o mercado de trabalho quanto os não-cotistas”, disse Regina.
Já em relação à questão de gênero, ela chamou atenção para o dado de que, a cada cinco faltas no mercado de trabalho, uma é por conta da violência doméstica. “Segundo a OIT [Organização Internacional do Trabalho], o Brasil perde 10,5% do PIB [Produto Interno Bruto] por causa da violência doméstica”, chamou atenção.
Ela terminou sua explanação falando das dificuldades em discutir questões sociais que não são enfrentadas apenas pelas categorias dos Auditores, mas por outros segmentos sindicais. “Porque nos âmbitos sindicais, a pauta do corporativismo é dominante, mas o Sindicato precisa se preocupar com o trabalhador como um todo, não só com o salário, mas com as 24 horas deste trabalhador que antes de tudo é um cidadão”.
Amanhã, os participantes discutirão Meio Ambiente e a atuação do Sindifisco Nacional como Agente de Transformação Social.