Maria da Glória: uma baiana, acima de tudo, dedicada

Aos 70 anos, Maria da Glória Ferreira mostra vigor e lucidez de quem tem, pelo menos, 10 ou 20 anos a menos. A Auditora-Fiscal aposentada foi a escolhida para representar a 5ª Região Fiscal, na série de entrevistas em homenagem às mulheres que fazem a RFB (Receita Federal do Brasil) neste mês de março.

O comprometimento com tudo que se propôs a fazer sempre foi o cartão de visitas da baiana Maria da Glória, que tinha tudo contrário à sua ascensão na vida por ser de origem pobre, negra e mulher. Mas a aposentada conta que nunca enfrentou preconceitos em sua trajetória. “Pelo contrário, sempre fui tratada muito respeitosa e carinhosamente pelos meus pares”, diz.

Em 1968, foi nomeada para a Previdência Social e, mesmo tendo alçado o mais alto posto na época, o de agente administrativo, não deixou de prestar outros concursos públicos. Quando menos esperava, foi chamada para a RFB e se tornou Auditora-Fiscal, cargo que ocupou até se aposentar.

Maria da Glória se destacou no concurso para a Receita, quase gabaritou a prova de Direito Tributário e foi a terceira colocada na Bahia. Sua primeira lotação foi Manaus (AM) onde, no impedimento do chefe, era ela quem respondia. Sua segunda parada foi Vitória da Conquista (BA), onde viveu grandes emoções na Fiscalização Externa.

Uma das fiscalizações inesquecíveis da Auditora foi quando, na entrega de um auto de infração de valor altíssimo a um empresário de Porto Seguro (BA), foi recebida de uma forma, no mínimo, inusitada. “Ele estava de sunga, sentado em cima da mesa, com um copo de uísque e um revólver”, conta a Auditora.

A Auditora não se intimidou, entregou o auto, explicou os trâmites ao empresário e quando saiu, confessa, desabou. “Situações como essa me faziam pensar em me aposentar”. E talvez tenha sido o acúmulo de fiscalizações emocionantes que tenham lhe rendido uma angina, em 1996, e um infarto em 2011.

Depois de tantas emoções, a Auditora se empenhou para voltar para junto dos seus, na também cidade baiana de Itabuna. Teve que sensibilizar a Administração para que reconhecesse a importância da Agência do local. “Era uma das maiores arrecadações da região. Já tinha status de Delegacia”.

Conseguiu a vaga na Agência e na festa de comemoração dos 10 anos da unidade, em 2011, foi homenageada por antigos e novos Auditores. A dedicação à RFB se somou à dedicação ao sindicalismo.

Maria da Glória foi representante sindical, do então Unafisco Sindical, em Vitória da Conquista, e, dessa época, lembra-se de grandes encontros que promoveu e participou como o seminário “Corrupção: uma via de mão dupla”. Um tema que sempre lhe interessou.

“Sempre zelei pelo cargo de Auditor. Nunca gostei dos boatos de que funcionário público era corrupto. Por isso, durante toda minha trajetória procurei atender a todos com justiça, sem privilegiar ninguém e sem recorrer ao tal jeitinho brasileiro. A esse eu nunca quis ser apresentada”.

A angina e o infarto fizeram a baiana desacelerar. Inglês, teologia, pintura e viagens trouxeram mais qualidade de vida à Auditora que, além dos filhos, criou as sobrinhas, pois sempre foi acostumada a cuidar muito melhor dos outros que de si mesma.

Próximo destaque – A próxima entrevistada da série em homenagem ao Mês da Mulher será Joaquina Maria Thomas Ribeiro Ramos, Auditora da 4ª Região Fiscal.

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