Excelência e Comprometimento: a espada na sua cabeça

Levindo Siqueira Jorge
Diretor de Defesa Profissional 

Seja em órgãos públicos, seja na iniciativa privada, todas as empresas procuram pessoas que tenham dois atributos, excelência e comprometimento.

Excelência na execução de suas atribuições, que se traduz em conhecimento e técnica profundos de seu trabalho, o que geralmente é conseguido após anos de estudos, de dedicação, de afinco.

Comprometimento com a empresa, o órgão e suas responsabilidades. Esse atributo, tão importante quanto o conhecimento, a técnica, é que potencializa esses dois últimos para que se revertam em um trabalho bem feito, em produtividade, em resultados não apenas satisfatórios, mas além do esperado, que faz com que a empresa, o órgão, possa atingir um patamar de eficiência e de destaque.

Excelência e comprometimento são os insumos fundamentais para o sucesso do negócio de qualquer instituição.

Não são comprados, não são produtos de prateleira. São características individuais que fazem parte da qualidade de um indivíduo em querer buscar sempre um algo mais, uma perfeição, e que dependem de muito esforço pessoal.

Quando se encontram na mesma pessoa, torna esta em um “ativo” especial e valoroso para a instituição.

Mas isto, na Receita Federal, ao contrário do resto do mundo, pode ser o que vai colocar a espada na sua cabeça, fazendo com que sejamos remetidos à idade média, culminando em decapitações.

Ser bom na Receita Federal faz mal à saúde. Ser ótimo pode levar a óbito.

Recentemente, três casos de autoridades do Órgão exemplificam isso.

O Auditor-Fiscal Marco Aurélio Canal, conhecido por todos pela excelência em seu trabalho, pela dedicação à instituição há mais de quinze anos, responsável por diversos trabalhos que engrandeceram e enalteceram a Receita Federal, foi vítima, de forma injustificada e cruel de ataques do Ministro Gilmar Mendes, com evidente intuito de retirar de si responsabilidade de supostos problemas, conforme veiculado na mídia, com o fisco. Valeu-se de ataques a um ícone da Receita Federal, um exemplo e inspiração para seus pares. Uma pessoa de conduta reconhecida e ilibada.

Os Auditores-Fiscais Luciano Castro e Wilson Silva, designados para atuarem em procedimentos de fiscalizações sensíveis, justamente por seus currículos, que demonstram as tais excelência e determinação, começaram a sofrer ataques externos devido a um suposto vazamento de informações, e cuja investigação do fato já demonstrou que não tiveram qualquer participação nisto.

Servindo como “bodes expiatórios”, em um tribunal claramente de exceção, foram afastados de suas funções por uma canetada de alguém que foi escolhido, ao arrepio do devido processo legal, para apurar fatos que não guardam relação com o trabalho que efetuavam no momento.

Todos os três, além da excelência e determinação, têm em comum mais uma coisa: foram largados e abandonados pela Receita Federal. Pelos superintendentes de suas regiões, pelos coordenadores e subsecretários de sua área, pela cúpula da Receita Federal, pelo secretário do órgão.

Tal atitude, pequena, vexatória, inadmissível, deplorável, é também covarde em duplo sentido.

Covarde porque deixa essas autoridades sozinhas, abandonadas em um enfrentamento com pessoas e grupos poderosos e articulados.

Covarde porque demonstra que essas pessoas que ocupam cargos administrativos, desde a superintendência, até a posição de secretário da Receita Federal, não têm coragem de enfrentar tais grupos, em defesa do exercício regular e impecável dos Auditores-Fiscais, em defesa do Órgão.

Se escondem, se apequenam.

Este momento é um marco para a Receita Federal. Um marco negativo. Um marco que demonstra claramente que o Leão não é feroz, destemido, mas, sim, que é covarde.

Cuidado, Auditores-Fiscais da Receita Federal! Exercer com excelência e determinação suas funções em prol do Estado, da sociedade, não apenas poderá, mas, ao que parece, será a espada em suas cabeças.

Como dito acima, excelência e comprometimento na Receita Federal não apenas faz mal à saúde, mas leva a óbito.

E quem poderá nos ajudar? O Chapolin Colorado?