Para Auditora, competência é a “chave para o sucesso”


A Auditora-Fiscal Ana Lúcia Tavares da Costa faz parte dos quadros da RFB há 16 anos. Antes, durante 13 anos, atuou como gerente de atendimento no Banco do Brasil, em Manaus (AM). Ana Lúcia  é lotada na DRF (Delegacia da Receita Federal do Brasil) da capital amazonense. Atualmente, ela é o que dentro da RFB se conhece como “Auditora de Pasta”, ou seja, atua na fiscalização direta das empresas. Nesta entrevista, a Auditora conta sua trajetória na RFB, os desafios enfrentados no exercício da função e demonstra que, quando se tem competência, a questão do gênero fica em segundo plano.

 

Sindifisco Nacional – Qual foi sua primeira lotação na RFB e que atividade a senhora desempenhou?
AL –
Assim que entrei, fui lotada na fiscalização, porém fiquei no gabinete do delegado (Auditor-Fiscal Adalberto Caldeira) que nos passou uma demanda especial da Cofis (Coordenação-Geral de Fiscalização). Em menos de um ano consegui ser removida para a recém-criada DRJ (Delegacia de Julgamento) em Manaus onde permaneci até sua extinção em setembro de 2001. Lá, cheguei até ao cargo de delegada substituta.

Sindifisco Nacional – O fato de a senhora ser mulher é ou foi uma dificuldade para a ascensão na sua vida funcional?
AL –
De jeito nenhum. Nunca senti qualquer rejeição ou desmerecimento por ser mulher, nem na RFB nem no Banco do Brasil, ou mesmo no banco particular em que trabalhei. Sempre fui respeitada e sempre fui convidada a assumir cargos de confiança. Esta é uma situação comum desde o início de minha entrada no mercado de trabalho. Pelo contrário. Nem sempre aceitei por medo de ser obrigada a negligenciar a criação de meus filhos para atender às necessidades de um eventual cargo. O que vivencio é que os homens querem experimentar o modo feminino de administrar, por acreditarem que a mulher é mais organizada e irredutível quando precisa ser.

Sindifisco Nacional – Qual foi o maior desafio enfrentado até agora, no desempenho de suas funções? A senhora reputa a isto o fato de ser mulher?
AL –
Creio que o maior desafio enfrentado, até hoje, foi a chefia do CAC (Central de Atendimento ao Contribuinte), em Manaus. Não reputo as dificuldades enfrentadas ao fato de ser mulher. Mas à falta de experiência, de tato em lidar com situações delicadas que os servidores da RFB enfrentam no atendimento ao público, quando nossas limitações ocasionam prejuízos aos contribuintes.

Sindifisco Nacional – A senhora lida diretamente com “os detentores do poder econômico”, muitas vezes indo de encontro a seus interesses. A senhora já se sentiu coagida por ser mulher?
AL –
As autoridades públicas e os empresários, sempre nos tratam com respeito e consideração. Já fui destratada por contribuintes, no atendimento ao público, por duas vezes. Porém, reputo tais incidentes ao desequilíbrio emocional deles. Nunca baixei a cabeça ou tive qualquer receio de executar minhas obrigações por acreditar na fragilidade de minha condição de mulher. Tenho, acima de tudo fé em Deus, se estou fazendo a minha parte da melhor maneira possível, espero que “ele, lá de cima”, cuide de mim da melhor maneira possível, também.

Sindifisco Nacional – Qual o segredo para se destacar em um ambiente ainda tão masculino como a RFB?
AL –
Acredito que na RFB vale a sua vontade de trabalhar e executar uma tarefa com comprometimento, seriedade e ética. As pessoas acabam reconhecendo que podem confiar em você e, simplesmente, acontece.

Sindifisco Nacional – Como conciliar a vida profissional com a pessoal?
AL –
É muito difícil. Aliás, as mulheres, em geral, não podem ter grandes ambições profissionais. Isso redundaria em colocar a família em segundo plano, e eu jamais faria isso. Vejo que a maioria das minhas colegas de trabalho pensa da mesma forma. Por esse motivo, você não vai encontrar muitas mulheres em postos de chefia. A mulher quando assume um cargo, ela quer ser perfeccionista, e isso demanda tempo, e o tempo da dona de casa é curto, já que temos dupla jornada. Busco executar um bom trabalho, dou o máximo de mim, sem, entretanto, deixar de estar em casa cedo para poder estar presente na vida de meus filhos e do meu marido.

Sindifisco Nacional – Qual sua mensagem para as mulheres neste momento em que se celebra o Dia Internacional da Mulher?
AL –
Creio que pertencemos a uma geração abençoada, pois as grandes conquistas feministas já nos precederam que foi o direito de voto, a pílula, o divórcio, a Lei Maria da Penha, etc. Às mulheres de meu tempo, desejo que se libertem da ditadura da beleza, da ditadura da perfeição e possam viver de forma mais plena e leve.

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