Sindicalista encerra Semana da Mulher com a sensibilidade característica do gênero

A Auditora-Fiscal Adelaide de Macedo Matos faz parte dos quadros da RFB (Receita Federal do Brasil) há 22 anos. Já trabalhou na fiscalização do INSS (Instituto nacional de Seguralidade Social) e, recentemente, foi eleita presidente da DS (Delegacia Sindical) do Sindifisco Nacional em Belo Horizonte (MG). Adelaide reconhece a dificuldade em se conciliar a vida pessoal com a profissional, mas não faz disso um obstáculo que a impeça de chegar onde deseja. Nesta entrevista, ela encerra a semana de homenagem à mulher, com a sensibilidade que caracteriza a presença das mulheres no mercado de trabalho e na luta por um país mais justo e fraterno.

 Sindifisco Nacional –  Há quanto tempo a senhora está na carreira Auditoria-Fiscal?
AM –
Ingressei na carreira de Auditoria-Fiscal na Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais, em fevereiro em 1988. Na fiscalização do INSS, ingressei em agosto de 1995, como Fiscal de Contribuições Previdenciárias, cargo que em 2005 foi transformado em Auditor-Fiscal da Previdência Social, hoje, com a unificação, Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil.

Sindifisco Nacional – Que atividades a senhora desempenhou na RFB?
AM –
Na ex-Secretaria da Receita Previdenciária exerci as funções de multiplicadora em diversos aplicativos, tais como GFIP, AuDig, CNIS/CNISA, etc. Fui chefe da Seção de Fiscalização e também responsável pelo planejamento da ação fiscal da Gerência Executiva do INSS, em Contagem (MG). Hoje, exerço a função de Auditora-Fiscal em atividade externa na Delegacia da Receita Federal do Brasil em Contagem.

Sindifisco Nacional – O que a motivou a ingressar na carreira?
AM –
Além da estabilidade no emprego e da remuneração, a carreira de Auditoria-Fiscal nos dá condição de participar da construção de uma sociedade justa, próspera e fraterna.

Sindifisco Nacional – O fato de a senhora ser mulher é uma dificuldade para a ascensão na carreira?
AM –
Não existe dificuldade. Porém,  o que defendo é que os próprios colegas participem da escolha das chefias, por entender que teriam como critério de escolha a competência, o bom desempenho e o profissionalismo.

Sindifisco Nacional – Qual a sua avaliação a respeito do ingresso da mulher no mercado de trabalho, especialmente na carreira Auditoria-Fiscal?
AM –
Acredito ser a própria evolução dos tempos, na qual a mulher se tornou dona do próprio nariz, capaz de satisfazer seus anseios em todas as áreas, com autonomia e liberdade. Hoje, a maioria dos Auditores-Fiscais são do sexo masculino. Contudo, com apenas duas décadas do Estado democrático e a emancipação da mulher ao longo do último século, as estatísticas tendem a melhorar. No ingresso por concurso, cada vez mais mulheres têm aproveitado a oportunidade.

Sindifisco Nacional – Qual foi o maior desafio enfrentado até agora, no desempenho de suas funções? A senhora reputa a isto o fato de ser mulher?
AM –
O maior desafio são os desajustes da máquina administrativa, a falta de segurança para o desenvolvimento das funções, os entraves burocráticos para aplicação das leis e sanções, a falta de capacitação dos agentes públicos, a exploração capitalista do ser humano, a falta de consciência coletiva de empresários e políticos e a má aplicação dos recursos arrecadados. Isso independe da condição de ser mulher.

Sindifisco Nacional – Como conciliar a vida profissional com a pessoal?
AM –
Tem uma frase, que não me recordo a autoria que diz: “ A vida é vitrola desafinada que não se afina nunca”. Portanto, conciliar a vida pessoal com a profissional é bastante complicado. Necessita-se de jogo de cintura e equilíbrio, na medida do possível. É quase impossível desvincular o pessoal do profissional e vice-versa, mas isto não é um mal em si, pois o ser humano tende à integralidade. Ele não se fragmenta.

Sindifisco Nacional – Em algum momento a senhora encontrou dificuldades nas atividades sindicais, como negociar com a administração, por ser mulher?
AM –
Objetivamente, não. Ideologias não têm sexo. Subjetivamente, sim. Devido a nossa cultura machista e sentimentos machistas, ainda afloram no subconsciente pensamentos como: “lugar de mulher é na cozinha”. No entanto, nós estamos em todos os lugares: na cozinha, na empresa, nos negócios, nas instituições, “arrumando a CASA e fazendo bonito”, através de nossa sensibilidade e dedicação, dando vida a novos projetos, pois instinto materno nós temos.

Sindifisco Nacional – Qual o segredo para se destacar em um ambiente ainda tão masculino como a RFB?
AM –
O que vale nesta vida é a intenção. Seja boa ou não, ela te guiará ao caminho escolhido. Neste caso, a melhor das intenções é pensar coletivamente independente mente do gênero e tentar de maneira séria e coerente alcançar objetivos que beneficiem a todos. E mais, como dizia Guimarães Rosa em Mudança: “Mire e veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam.” Ao ler este poema, sinto-me cada vez mais motivada a conviver e viver com as pessoas.

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