Dia da Mulher: Roda de conversa entre Auditoras discute assédio e dificuldades na ascensão aos cargos de chefia

Por que as mulheres têm dificuldade em ascender aos cargos de liderança no ambiente de trabalho mesmo possuindo qualificação exigida? Os entraves para se chegar a esse espaço ocupado majoritariamente por homens foram foco do “Roda de Conversa: Auditoras-Fiscais e os Desafios para Ocupar Cargos de Poder na Receita Federal do Brasil”, promovida pelo Sindifisco Nacional em parceria com a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip).

O evento híbrido, que ocorreu nesta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, trouxe um olhar mais humanizado para as diversas formas de assédio e discriminação praticadas no ambiente institucional e motivadas pela questão de gênero.

Para compartilhar suas histórias e ajudar na construção de um novo cenário, de empoderamento e transformação, foram convidadas as Auditoras-Fiscais Clair Hickmann, Fátima Gondim, Josete Vignolle, Luciana Barcarolo e Andrea Chaves.

Sororidade

Ex-delegada da Delegacia Especial de Instituições Financeiras (Deinf), em São Paulo, e chefe na Delegacia Especial de Maiores Contribuintes, Clair Hickmann falou sobre situações vivenciadas dentro da Receita.

“A gente não se dá conta, a gente não tem consciência de que sofre pequenas violências no dia a dia”, disse.

As lacunas de autoridade, que provocam uma série de ações de cunho misógino e preconceituoso, foram abordadas pela Auditora Luciana Barcarolo. Aos participantes, ela apresentou expressões usadas comumente para definir tais comportamentos elencados pela autora Mary Ann Sieghart. Dentre elas, o manterrupting, que équando um homem interrompe constantemente uma mulher, de maneira desnecessária, não permitindo que ela consiga concluir sua frase. 

Outro comportamento recorrente entre os casos de assédio é obropriating, que é quando um homem se apropria das ideias, invenções, iniciativas ou estudos de uma mulher, levando os créditos por ela.

Após dividir experiências desgastantes no ambiente laboral, ela defendeu que as pessoas sejam atentas a qualquer clima de constrangimento. “Toda a sociedade tem a ganhar quando essa lacuna for diminuída. É importante que tenhamos consciência e façamos uma reflexão sobre casos dessa natureza”, disse.

Atualmente no cargo de subsecretária de Fiscalização da Receita Federal, Andrea Chaves falou sobre o machismo estrutural e citou que a prática abusiva não ocorre somente no âmbito institucional, mas também doméstico, porque está arraigada na sociedade.

“O que me choca no machismo estrutural é que a incompetência masculina sempre é perdoada. As mulheres também podem errar, mas o erro feminino numa relação de poder tem um peso maior. Por isso, muitas colegas têm medo de assumir um posto de chefia”.

Ao também dividir diversos casos de assédio, a Auditora Josete Vignolle viu nos espaços associativos o lugar de fala e, principalmente, de escuta. “Imagino que esse 8 de março seja o mais significativo, o mais feliz da minha vida! E não porque nunca fiz parte de outros movimentos, outras celebrações com Auditoras. Vejo, dentro da Casa, uma efervescência, um olhar para palestras, oficinas, grupos de redes sociais que, quando são criados, incentivados, as mulheres vêm. Acho que falta essa visão também na Administração”, adverte.

Com larga experiência nas áreas de tributos internos e aduaneiros, a ex-delegada-adjunta da Receita Fátima Gondim também contribuiu com o debate trazendo suas experiências, algumas carregadas de cerceamento e de testes de competência. “A gente só percebe quando é algo exacerbado quando joga luz sobre o problema. Por isso, é muito importante conversar com outras colegas a respeito do assunto”, esclareceu.

Espaço de luta

De acordo com a diretora de Defesa da Justiça Fiscal e da Seguridade Social, de Políticas Sociais e Assuntos Especiais, Auditora-Fiscal Maria de Lourdes Nunes Carvalho, o país vive um momento propício no ambiente institucional que favorece a mudança de mentalidade em torno do assédio. “Precisamos ocupar espaços nas várias dimensões. Entendo, inclusive, que para termos uma quantidade maior de Auditoras precisamos aprofundar o debate sobre a necessidade de alterações nas regras de acesso ao cargo para contemplar a questão de gênero”, cobrou.

Para o presidente da Anfip, Auditor-Fiscal Vilson Romero, o Dia da Mulher é dia de luta e de reflexão. “Na população brasileira, as mulheres são cinco milhões a mais. Como eleitoras, são quase 53%. Mas isso não se reflete nos diversos setores da sociedade. Em 2022, cerca de 19 milhões de mulheres foram atacadas e agredidas, conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Basta de assédio moral, de assédio sexual, de agressões de todo o gênero!”, disse.

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