Derrota nas urnas faz Hollande trocar premiê e reduzir impostos
Por Reuters
O presidente François Hollande nomeou ontem o ministro do Interior Manuel Valls como seu novo primeiro-ministro. Valls, considerado como pertencente à ala mais à direita do Partido Socialista, vai substituir Jean-Marc Ayrault, que renunciou após a ampla derrota sofrida domingo pela legenda nas eleições locais francesas.
Em reação ao fraco desempenho dos socialistas nas urnas, Hollande acenou com um distanciamento da política de austeridade. Ele prometeu fazer cortes em encargos trabalhistas pagos pelas empresas e no imposto de renda, para estimular o consumo. Hollande pediu que os Estados-membros da União Europeia (UE) levem em conta seus esforços pró-reformas na hora de julgar se a França cumpriu os compromissos assumidos com Bruxelas.
"Compreendi sua mensagem, é bastante clara", disse o presidente em discurso à nação transmitido pela TV no qual reconheceu que seu governo, após 22 meses, não conseguiu resultados para reativar a segunda maior economia da zona do euro.
"Poucas mudanças e muita lentidão. Poucos empregos e muito desemprego. Pouca justiça social e muitos impostos (…) Volto a repetir: temos que recolocar nosso país no caminho certo", afirmou Hollande.
Valls, de 51 anos, tem sido comparado ao ex-premiê britânico Tony Blair por seu estilo arrojado e suas ideias simpáticas à iniciativa privada. Ele não agrada a ala à esquerda dos socialistas, entre outros motivos por já ter proposto a mudança do nome do partido e pelas críticas à semana de 35 horas de trabalho, introduzida há mais de uma década por iniciativa da agremiação. Valls, que segundo amigos tem ambições presidenciais, deve apresentar os nomes de seu gabinete até quarta-feira.
No pronunciamento, Hollande disse que a França promoverá cortes de gastos públicos para diminuir o déficit orçamentário e reduzirá encargos trabalhistas em aproximadamente ? 30 bilhões, como parte de um "pacto de responsabilidade" com empregadores lançado em janeiro.
Mas Hollande disse que as eleições de domingo, na qual os socialistas perderam o controle de mais de 150 prefeituras, também mostraram a necessidade de um "pacto de solidariedade", traduzido em cortes de impostos para trabalhadores e garantias a compromissos de assistência social, treinamento para jovens e educação.
O presidente não deu detalhes de quanto tudo isso custaria, mas disse que seria financiado com os mais de ? 50 bilhões de cortes em gastos públicos programados para os próximos três anos. "O governo terá que convencer a Europa de que esse esforço da França para impulsionar o crescimento e a competitividade deve ser levado em conta no que se refere aos compromissos [com a UE]."
No ano passado, os demais membros do bloco europeu deram à França dois anos extras, até o fim de 2015, para que o país reduza o seu déficit público para menos de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) – o limite definido pelas regras da UE.
Números divulgados ontem mostram que o déficit ficou em 4,3% do PIB no ano passado, ultrapassando a meta com a qual o governo trabalhava (4,1%).