Chacina de Unaí: Sindifisco participa de ato público online
O diretor de Relações Intersindicais e Internacionais do Sindifisco Nacional, Kurt Krause, participou, nesta quinta (28), de um ato público, em formato telepresencial, com as presenças de representantes de diversas entidades e de familiares das vítimas da Chacina de Unaí. O encontro, promovido pelo Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Sinait), lembrou os 6.210 dias de impunidade, pelo fato de os mandantes e os intermediários do crime ainda permanecerem em liberdade.
A escolha da data para a realização do evento é uma homenagem aos Auditores-Fiscais do Trabalho Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, e ao motorista Ailton Pereira de Oliveira. Eles foram vítimas de uma emboscada, em 28 de janeiro de 2004, durante uma inspeção de rotina em fazendas da região de Unaí (MG), onde havia denúncias de exploração de trabalho escravo. Em 2009, os Auditores assassinados receberam duas homenagens, em forma de leis. A Lei nº 11.905 instituiu 28 de janeiro como Dia do Auditor-Fiscal do Trabalho e Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. Já a Lei nº 12.064 criou a Semana Nacional de Combate ao Trabalho Escravo.
Emocionada, Marinez Lina de Laia, viúva de Eratóstenes, contou que, dois dias antes da Chacina de Unaí, o marido dela se despediu e partiu com Ailton e João Batista para se encontrarem com Nelson. “Segunda-feira, dia 26: foi o dia do último beijo, do último toque. Na terça, dia 27, eu ouvi, pela última vez, a sua voz, pelo telefone. Ele disse que estava tudo bem e desligou”, recordou Marinez. “Não dá para esquecer. São muitos dias de dor. O que a gente gostaria é que a gente tivesse um ato como esse, mas pra falar que a justiça foi feita. Mas 17 anos?! Fica aquele paradoxo: a descrença com a esperança”, lamentou, em lágrimas, Marinez.
Kurt Krause comentou a situação vivenciada por Marinez. “É um sentimento misto de incredulidade e revolta. Nós, Auditores-Fiscais, sabemos muito bem a dor da perda de colegas em razão das suas atribuições. Quem esteve em Maringá no início do ano passado sabe bem do que estou falando. Todavia, temos ter que ter a esperança de que a Justiça, ainda que tardia, será feita”, declarou o diretor do Sindifisco, lembrando o Caso Sevilha. Assim como a equipe de Auditores-Fiscais do Trabalho, o Auditor-Fiscal da Receita Federal José Antônio Sevilha de Souza, foi assassinado, em setembro de 2005, pelo dono de uma empresa que ele fiscalizava, em Maringá (PR). O julgamento a que Kurt se referiu foi cancelado pelo Tribunal do Juri na cidade, em 2020. O acusado segue impune.
Justiça tarda e falha – Embora condenados em 2015, os mandantes e intermediários da Chacina de Unaí, permanecem em liberdade. Em novembro de 2018, uma reviravolta: o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) anulou o julgamento de Antério Mânica, depois que o irmão dele Norberto Mânica assumiu ser o único mandante do crime. O novo julgamento ainda não tem data para ocorrer.
Os empresários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro, que fizeram a intermediação entre os irmãos Mânica e os pistoleiros, tiveram suas penas reduzidas pelo TRF1 também em 2018 e recorrem da sentença em liberdade.
Nove pessoas foram indiciadas pela participação na Chacina de Unaí. Desses réus, um já morreu e outro teve a pena prescrita. Os únicos que estão presos são os executores Rogério Alan Rocha Rios e Erinaldo de Vasconcelos Silva, e além de Wiliam Gomes de Miranda, contratado como motorista dos pistoleiros durante a chacina.
“O crime não calou a categoria. Pelo contrário. Deu mais ainda razões para continuar a defender os direitos dos trabalhadores, mesmo com dificuldade e limitações. Estamos novamente aqui hoje porque não queremos conviver para sempre com essa chaga da impunidade”, afirmou o presidente do Sinait, Bob Machado.
Os alvos – O alvo principal da chacina era Nelson, que já havia sido ameaçado de morte por Norberto Mânica, em decorrência de inspeções anteriores. A ameaça se concretizou numa estrada de terra que dava acesso à propriedade fiscalizada. Pistoleiros simularam um assalto e, em seguida, atiraram na camionete usada pela equipe. Nelson, Eratóstenes e João Batista morreram na hora. O motorista, Ailton, mesmo após dois tiros na cabeça, conseguiu dirigir por 8km até um trevo. Socorrido, ele morreu no caminho para o hospital, localizado em Brasília (DF), a cerca de 200km de distância.