Argélia Bonan, para quem o tempo nunca foi problema
A Auditora-Fiscal aposentada Argélia Bonan “pendurou as chuteiras” há 10 anos, mas enquanto esteve no exercício de sua função, bateu um bolão. Durante 25 anos initerruptos exerceu cargos de chefia. O segredo? Tratar cada funcionário como índividuo e não número.
Se o talento para lidar com pessoas foi um dom, para obter o conhecimento técnico ela teve que suar a camisa. Aos 34 anos, separada, com três filhos e apenas o primeiro grau, Argélia fez um supletivo e completou o segundo grau em um ano.
Com certificado na mão, passando por uma rua do Rio de Janeiro, viu uma fila imensa, foi saber do que se tratava. A fila era para inscrição no concurso para agente administrativo do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social). Pagou Cr$ 20, ou seja 20 Cruzeiros, moeda da época, e, segundo ela, foi o dinheiro mais bem pago da vida.
Passou. Era o ano de 1976, e ela foi lotada em Rio Bonito, a uma hora de casa. Ia e voltava todos os dias. Colocou as crianças em escola integral. O pai era fiscal de rendas do Estado. Achou pouco a rotina de 8h às 17h – com duas horas de deslocamento até a agência de Rio Bonito, onde só tinha ela e o chefe para administrar uma agência – e fez vestibular para Direito.
Passou. Saía direto de Rio Bonito para as aulas na Universidade Fluminense. Chegava em casa às 23h. “Foi cansativo”, relembra. Em 1980, voltou para o Rio, capital, e já tomando gosto pelas aulas de Direito, só assinava processo que chegasse a mesa dela fundamentado.
Nutrida com a legislação e tomando cada vez mais gosto pela área de fiscalização, em 1985 fez um concurso interno e se tornou fiscal da Previdência, cargo que hoje recebe o nome de Auditor-Fiscal. E assim foi sua vida funcional, um eterno equilíbrio entre valorizar pessoas e dominar os atos e a legislação do órgão.
Nessa caminhada, nunca sentiu pesar a diferença de gênero. Ao contrário do que passou antes de entrar no serviço público: foi procurar emprego na iniciativa privada e recebeu algumas propostas indecorosas classificadas pelos autores como “troca de favores”.
A lavada de alma viria ao ingressar na Previdência e ver um time de primeira, composto em sua maioria por mulheres, dando show de competência. Hoje, a única coisa que preocupa a Auditora – mãe de três filhos, avó de quatro netos, um bisneto a caminho e viúva de dois maridos – é a saúde. E a sua não precisa de muita coisa para se manter. Só família e amigos. Com os primeiros, se reúne a cada dois ou três meses. O último encontro foi em Angra dos Reis. Com os segundos, almoça uma vez por mês, em Niterói, onde mora. “É o que a gente leva da vida”, diz.
A história da Auditora-Fiscal Argélia Bonan (7ª Região Fiscal) faz parte da série de homenagens do Sindifisco Nacional, neste março de 2013, às mulheres que compõem o quadro funcional da RFB.